Roteiros Imperdíveis

Argentina ao natural: cinco roteiros para aproveitar o país vizinho e fugir de aglomerações

Da história em Santiago del Estero aos lagos patagônicos, listamos lugares que funcionam como alternativa aos destinos mais concorridos

publicado em: 15/10/2021

Jantar num renomado restaurante de carnes em Puerto Madero, Palermo ou La Boca, em Buenos Aires, é um excelente programa, sem dúvida. Mas que tal sair um pouco da capital argentina e provar asados ainda mais autênticas em Santiago del Estero? E por que não explorar mais os entornos de destinos já muito conhecidos, como Mendoza e Bariloche, em busca de paisagens igualmente impactantes e menos concorridas?

No momento em que a Argentina reabre suas fronteiras, após mais de um ano e meio, para turistas brasileiros — podemos entrar no país vizinho desde 1º de outubro, com restrições cada vez menores —, a ideia de buscar novas experiências nesse vizinho tão conhecido parece muito bem-vinda. Inclusive entre as autoridades argentinas, que vêm batendo nessa tecla nas campanhas mais recentes de promoção turística.

— Nosso país tem muitos atrativos naturais, e muito espaço ao ar livre que merece ser explorado. Montanhas, geleiras, campos, vida rural. Tudo o que passou a ser ainda mais valorizado durante a pandemia — diz Ricardo Sosa, presidente do Instituto Nacional de Promoción Turistica (Inprotur), o equivalente argentino à Embratur.

Para valorizar ainda mais esse potencial, o Ministério do Turismo argentino organizou o programa “La Ruta Natural”, com 17 roteiros e 25 experiências em atrativos naturais, de norte a sul do país. As informações foram reunidas no site argentina.gob.ar/turismoydeportes/larutanatural.  Essas opções de viagem também ganharam mais destaque na nova página oficial do Turismo da Argentina (argentina.travel), que foi reformulada em setembro, às vésperas da reabertura das fronteiras.

Baseado nas informações desses portais e nas dicas do próprio Ricardo Sosa, o Boa Viagem listou cinco atrações ou destinos que exploram o contato com a natureza em destinos “alternativos”, para quem quer voltar a visitar o país vizinho, mas fugindo de grandes aglomerações.

Baseado nas informações desses portais e nas dicas do próprio Ricardo Sosa, o Boa Viagem listou cinco atrações ou destinos que exploram o contato com a natureza em destinos “alternativos”, para quem quer voltar a visitar o país vizinho, mas fugindo de grandes aglomerações. 

Neuquén: uma estrada, sete lagos

Piquenique às margens do Lago Nahuel Huapi, em Villa la Angostura, parte do Camino de los Siete Lagos, na província de Neuquén, na Argentina Foto: Divulgação
Piquenique às margens do Lago Nahuel Huapi, em Villa la Angostura, parte do Camino de los Siete Lagos, na província de Neuquén, na Argentina Foto: Divulgação

Bariloche costuma ser a grande força de atração de visitantes à região da Patagônia Andina argentina. A cidade, de fato, merece uma visita em qualquer época do ano, e não apenas na temporada de esqui. Mas quem quer evitar multidões encontra uma bela rota de fuga através do Camino de los Siete Lagos, poucos quilômetros ao norte. 

Trata-se de um dos trechos mais cênicos da mítica  Ruta Nacional 40, a rodovia que vai da fronteira com a Bolívia, ao norte, ao sul da Patagônia, sempre aos pés da Cordilheira dos Andes. Neste pedaço especificamente ela atravessa os parques nacionais Lanín e Nahuel Huapi e conecta San Martín de los Andes e Villa la Angostura, duas cidadezinhas charmosas na província de Neuquén. Programe ao menos três dias na região, para aproveitar com calma os ótimos restaurantes e as atividades que vão desde cavalgadas (ou esqui) nas montanhas a caiaque nos lagos. 

Primavera nos Andes: a estação das flores é particularmente bonita no Caminho dos Sete Lagos, na Argentina, mas roteiro oferece belas paisagens o ano todo Foto: Efraín Dávila / Inprotur/Divulgação
Primavera nos Andes: a estação das flores é particularmente bonita no Caminho dos Sete Lagos, na Argentina, mas roteiro oferece belas paisagens o ano todo Foto: Efraín Dávila / Inprotur/Divulgação

A beleza maior, no entanto, está na viagem. São pouco mais de cem quilômetros passando por sete grandes lagos de água glacial (Machónico, Hermoso , Villarino, Falkner, Escondido, Espejo e Correntoso), tudo emoldurado por montanhas cobertas por bosques, que mudam de cor ao longo do ano. Inclua na lista ainda os lagos Lácar, que banha San Martin de los Andes, e o gigante Nahuel Huapi, às margens do qual ficam Villa la Angostura e Bariloche. 

Santa Cruz: caminhando entre geleiras

Glaciar Perito Moreno, a geleira mais famosa da Argentina, no Parque Nacional Los Glaciares, na província de Santa Cruz Foto: Divulgação
Glaciar Perito Moreno, a geleira mais famosa da Argentina, no Parque Nacional Los Glaciares, na província de Santa Cruz Foto: Divulgação

Um dos visuais mais impactantes que se pode ter na Argentina é o da Glaciar Perito Moreno, o paredão de gelo de cinco quilômetros de largura e cerca de 60 metros de altura, que avança (cada vez mais lentamente) sobre o Lago Argentino e solta blocos do tamanho de edifícios, que caem na água causando grande estrondo e comoção na plateia. A geleira é a grande estrela do Parque Nacional Los Glaciares, que por sua vez é a principal atração da bucólica El Calafate, na província de Santa Cruz.

Se a cidade (onde, aliás, a vice-presidente Cristina Kirchner tem imóveis e hotéis) parece um destino já muito popular, uma opção é El Chaltén, vilarejo um pouco mais ao norte, muito buscado por praticantes de trekking e montanhismo. O lugar é o ponto de partida da Huella de los  Glaciares (“pegada das geleiras”), uma travessia a pé entre Argentina e Villa O’Higgins, no Chile, passando por geleiras, montanhas nevadas e paisagens espetaculares.  

Cinco das sete geleiras por onde passa o percurso (que leva, em média, oito dias para ser concluído) é feito em território argentino, o que pode ser uma boa opção para quem não quer a burocracia de uma travessia de fronteiras neste momento de pandemia. Antes de atravessar para o Chile, os aventureiros caminharão às margens das geleiras Torre, Fitz Roy (aos pés da montanha homônima, a mais famosa da região), Piedras Blancas, Marconi e Huemul.  

Santiago del Estero: deliciosas tradições

Churrasco de cordeiro à moda tradicional em Santiago del Estero, no norte da Argentina Foto: Divulgação
Churrasco de cordeiro à moda tradicional em Santiago del Estero, no norte da Argentina Foto: Divulgação

Capital de província de mesmo nome, no norte do país, Santiago del Estero é conhecida como a “mãe de todas as cidades” da Argentina, por ser a mais antiga delas, fundada em 1553. É também apontada como o berço do folclore nacional, onde nasceram ritmos, lendas e receitas que até hoje ajudam a definir a identidade cultural argentina. 

— É uma ótima oportunidade de conhecer um lado mais original da Argentina, e aprender sobre a história do país. Foi ali, por exemplo, que as primeiras parreiras, que deram origem à produção nacional de vinhos, foram plantadas —conta Sosa, que já foi subsecretário de turismo da província de Santiago del Estero.

Estando na cidade, não deixe de provar as delícias locais, com sabores que remetem às heranças dos povos indígenas e dos colonos espanhóis. Em vez dos pratos de origem italiana da capital, em Santiago o que faz sucesso são receitas a base de milho, como a mazamorra (tipo de mingau), o locro (ensopado), o tamal e a  humita (dois parentes da pamonha). Ou ainda os biscoitos moroncitos  e o bolanchao, doce feito com frutas da região. E, claro, os asados de carne de cabrito, porco ou vaca, feitos à moda tradicional, na brasa ou em forno de barro. Tudo isso ao som de ritmos que também emulam as origens do país, como a chacarera, cuja dança lembra um pouco as praticadas nos centros de tradições gaúchas. Sim, estando em Santiago del Estero, esqueça o tango. 

San Juan: vinhos harmonizam com os astros?

Complejo Astronômico El Leoncito, observatório no Parque Nacional El Leoncito, na província de San Juan, na região do Cuyo, no norte da Argentina Foto: Divulgação
Complejo Astronômico El Leoncito, observatório no Parque Nacional El Leoncito, na província de San Juan, na região do Cuyo, no norte da Argentina Foto: Divulgação

Amantes de vinhos, claro, já visitaram ou pretendem um dia visitar Mendoza, epicentro da principal região viticultora da Argentina. Mas uma visita à região do Cuyo, no noroeste do país, na fronteira com o Chile, não pode se resumir apenas a vinícolas. As bebidas produzidas nas bodegas da região harmonizam muito bem com as estrelas, por exemplo.

A província de San Juan, vizinha a de Mendoza e pertencente à mesma região, é um dos melhores destinos do país para o astroturismo. A altitude elevada (a partir de 2.200 metros) e o tempo seco criam uma condição climática que, além de boas uvas, permite um céu límpido. No Parque Nacional El Leoncito, uma área de preservação do sistema semidesértico da região, repleta de guanacos (parentes das lhamas), estão dois importantes observatórios, o Complejo Astronômico El Leoncito e o Observatório Astronômico Carlos Ulrico Cesco que devem reabrir para a visitação num futuro próximo. O céu também é especialmente bonito no Parque Estadual Ischigualasto, onde formações rochosas inusitadas podem levar o viajante a imaginar estar em outro planeta. 

E, para não dizer que não falamos de vinhos, há uma série de vinícolas que valem ser visitadas no estado, nos Valles de Tulum, Zonda e Ullum, onde se produzem, sobretudo, espumantes e tintos com a uva Syrah. 

Chubut: calendário da vida selvagem

Colônia de lobos-marinhos na Península Valdés, na província de Chubut, no sul da Argentina Foto: Divulgação
Colônia de lobos-marinhos na Península Valdés, na província de Chubut, no sul da Argentina Foto: Divulgação

Uma das melhores atrações turísticas da Argentina segue um calendário muito rígido. Na Península Valdés, na província patagônica de Chubut, as temporadas de observação da vida marinha são bem marcadas, e, dependendo da época em que se visite, a experiência é completamente diferente.  

Entre junho e outubro, está em cartaz o espetáculo da baleia-franca-austral. A região é uma das preferidas da espécie para o momento de procriação e nascimento dos filhotes. Milhares de baleias são avistadas todos os anos em passeios de barco que saem de Puerto Pirámides. Já as colônias de elefantes-marinhos são sucesso de público e crítica entre setembro e novembro, quando alcançam seu tamanho máximo, principalmente em Punta Delgada.

Quem for entre março e maio poderá presenciar de perto as orcas, que aparecem na península, atraídas pelos filhotes dos lobos-marinhos, que, a esta altura, começam a se aventurar na água sozinhos. Muitos passeios saem de Puerto Madryn, a principal porta de entrada para a península, e de onde também partem excursões para mergulhadores que possuem certificado e não têm medo de água fria. 

As regras de entrada e circulação 

Para entrar hoje na Argentina sem precisar fazer quarentena, o viajante internacional precisa comprovar que concluiu a vacinação contra a Covid-19 (com qualquer imunizante aplicado no Brasil) há pelo menos 14 dias, apresentar um teste PCR negativo feito 72 horas antes do embarque, realizar um exame de antígeno na chegada ao país e, caso o resultado dê negativo, se submeter a um novo PCR sete dias depois. Segundo Ricardo Sosa, estas duas últimas exigências cairão nos próximos dias, quando o percentual da população vacinada no país ultrapassar os 50%. 

Quem não estiver totalmente vacinado, no entanto, precisa fazer o antígeno na chegada e cumprir ao menos sete dias de quarentena, que só será encerrada com o resultado negativo de um novo PCR. Até o momento, as normas argentinas indicam que famílias que estiverem com crianças que ainda não concluíram a vacinação deverão cumprir quarentena, mesmo que os adultos estejam completamente vacinados. 

Uma vez no país, o turista encontrará opções de lazer e estabelecimentos comerciais, como parques, casas de shows, teatros, lojas, bares e restaurantes funcionando normalmente, sem limitação nem exigência de comprovantes de vacinação. O uso de máscaras é, no momento, obrigatório apenas em ambientes fechados. E a circulação dentro do país, entre cidades e províncias, está liberada, sem qualquer tipo de barreira sanitária. Essas condições, é claro, podem mudar, caso as autoridades de saúde pública argentinas identifiquem a necessidade. 

Sosa esteve, ao longo da semana passada, na Abav Expo, a feira da Associação Brasileira de Agências de Viagem, que voltou a acontecer presencialmente, desta vez em Fortaleza. Durante o evento, ele anunciou que os voos entre os dois países, que aconteciam a conta-gotas desde o ano passado, já estão sendo reforçados. 

Segundo Sosa, as Aerolíneas Argentinas terão voos diários entre Buenos Aires e São Paulo e dois voos semanais entre Buenos Aires e Rio de Janeiro a partir de 18 de outubro. Em 1º de novembro, essas frequências passarão a ser duas vezes por dia para São Paulo e três por semana para o Rio. 

Já a Latam passará de um voo semanal, entre Guarulhos e a capital argentina, para 24, a partir de 18 de novembro. Em meados de dezembro, será a vez de a Gol voltar a voar diariamente de São Paulo a Buenos Aires.  

— À medida que a demanda aumentar, a conexão aérea entre os dois países voltará a crescer. Inclusive para outras cidades argentinas, como acontecia antes — aposta Sosa.

 

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Publicado por

Thiago Ribeiro Guedes

Editor do Focalizando

Jornalista e graduado em Publicidade, fiz da internet o meu país. Nas minhas redes sociais (@thiagobotafogo) não coloco ninguém em vacilo e produzo conteúdo sobre vida adulta, viagens, séries, filmes, tv, Biriba (meu cachorro) e Botafogo. Ah, e adoro reclamar. Se a vida me cobrasse para reclamar, eu pagaria o dobro!

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